23 outubro 2014

Pesadelos de palco (post longo...e em crescendo)

Não, não vou falar daqueles instantes em que a mente fica em branco no meio da coreografia, nem quando nos adiantamos, atrasamos ou enganamos depois de meses de ensaios. Acontece, é verdade. É frustante e muitas vezes constrangedor, sim. No entanto, existem situações piores, capazes de provocar pesadelos nos dias que antecedem uma actuação. E nos dias seguintes também. E em quase todos os outros, na verdade.

Nem todas as que vou descrever são experiências na 1ª pessoa (thank god!). Algumas sim, outras vi acontecer ao meu lado. O que por si só, também já provoca calafrios. Porque no palco não dependemos só de nós, e o que acontece com um é problema de todos.
E sim, a introdução para adormecer meninos foi propositada. Facilita a dissertação sobre momentos caricatos / embaraçosos / arranjem-me um buraco onde me enfiar. Todos eles com um denominador comum: the show must go on. Ah, e claro, todos eles filmados para a posteridade.

Um desses começa com o partir duma fivela do sapato de dança. Em plena actuação. A dançar, em cima de uns saltos de 10cm e de repente, esse sapato fica solto. Além do perigo imediato para a integridade do nosso pé, é impossível continuar sem parecer, no mínimo, um trambolho. Sangue-frio. Improvisação numa situação que nunca foi ensaiada. Aproveitando uma volta e um momento mais pausado na música, uma sacudidela de perna faz voar o sapato solto. E continua-se até ao fim, com um pé de salto alto e um pé descalço. Com tanta classe que grande parte da plateia nem se apercebeu. Excepção feita aos que praticamente levaram com um sapato no meio da testa enquanto assistiam tranquilamente.

Depois temos também aqueles episódios em que, ao sair de um lift, percebemos que um dos nossos sapatos ficou preso no vestido, ou nas meias. Em segundos vamos aterrar, e entrar no tempo da música, e precisamos desesperadamente de ter os dois pés no chão. Mas um está posicionado algures no meio do nosso corpo, e parecemos uma espécie de bêbados a quem mandaram fazer um quatro. Algo semelhante ao pânico de ver um comboio a aproximar-se em grande velocidade e estarmos presos na linha. Que se lixe o sangue-frio. Nesta situação usa-se a força. A suficiente para rasgar o vestido ou as meias. E nem nos importamos com o rasgão ou buraco, tal é o alívio de estar novamente em cima das duas pernas e entrar no tempo exacto. Até esquecemos que, por breves segundos, parecíamos um bêbado a sofrer um ataque epiléptico. Entretenimento do bom.

Mas a mãe de todos os pesadelos, a causadora dos maiores ataques de pânico é, sem dúvida alguma... a nudez involuntária. Sim, aquele pesadelo de estar perante uma plateia e assim do nada, ficar sem roupa. A dançar, algo no fato se solta ou rasga, e partes que era suposto permanecerem anónimas ameaçam espreitar e cumprimentar o público a qualquer instante. E é este o maior dilema que pode surgir numa actuação. Fugir do palco? Arriscar tudo e continuar, numa luta inglória contra a gravidade? Não é uma decisão fácil. Mais difícil ainda é tentar afastar o pânico do rosto, enquanto desesperadamente usam todos os momentos em que uma das vossas mãos está livre para ir segurando o tecido que vos cobre. E a lição mais valiosa que se aprende? Usem e abusem dos elásticos, sistemas de segurança e cola própria para tecido e pele. E just in case, invistam também em tapa-mamilos.

2 comentários:

  1. Nesta última os homens estão em vantagem, já que não precisamos de tapar mamilos :P

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    1. Estão sempre em vantagem, já que a maioria também não usa saltos altos, nem é lançada ao ar. Por outro lado, quando rasgam as calças... não é bonito de se ver :P

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